segunda-feira, 15 de junho de 2009

De dignidade à criminalidade

Quando assumiu a Presidência da República, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva falou à nação que sua principal meta era acabar com a fome, dando um mínimo de dignidade aos brasileiros. Para o presidente, fazer três refeições deveria ser um direito de toda população e ele lutaria por isso. Pois bem, passamos quatro anos de seu primeiro governo, estamos no terceiro ano de sua reeleição e ainda existem pessoas neste país que lutam para comer. Por ingerência ou não do nosso principal mandatário, algumas instituições religiosas e Ong’s desenvolvem um trabalho bastante interessante que vai ao encontro dos ideais de Lula, oferecendo alimento às pessoas que vivem na “M” (margem da sociedade). Tivemos a oportunidade de acompanhar de perto a alegria de seres humanos que viam no famoso “Sopão” a chance de fazer ao menos uma refeição. Mas, vivemos num estado (RJ) onde tudo conspira para a criminalidade. Tenho ouvido e lido informações de que “moradores de região carente protegem narcotraficantes”, “os pedófilos estão associados aos narcotraficantes”, ou ainda “que a pirataria de produtos fomenta o narcotráfico”. Se já achávamos esses argumentos um pouco exagerados, o que dizer da nova pérola produzida pelo secretário municipal de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem. Para ele, as pessoas que distribuem comida a moradores de rua acabam contribuindo para a permanência das pessoas nas ruas, “porque muitos se recusam a seguir para os abrigos porque não querem perder o sopão”. Confesso que já não via com bons olhos a expressão “choque de ordem”, para mim um eufemismo para a idéia de aumento da repressão contra os menos favorecidos. Pobre, pedófilo, pirataria e proteção (que não é dada pelo Estado) viraram contributos para a rubrica da criminalidade do século XXI: narcotraficante. É bom que estejamos de olhos bem abertos, pois essa investida contra o trabalho social acaba revelando um forte cunho fascista, afinal dar comida (para a gestão pública da cidade do Rio) deixa de ser reconhecimento de dignidade para se converter em incentivo à criminalidade.

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