quarta-feira, 27 de maio de 2009

Jornalista, torcedor, cidadão

Duas notícias nos chocaram esta semana: a primeira falava sobre um jornalista que insistiu em torcer da Tribuna de Imprensa do Maracanã; a segunda, que torcedores partiram para a agressão contra jogadores do Fluminense, em pleno treino. Pois bem, quais os problemas nas duas situações? Sabemos que o homem é um ator social (até aí nenhuma novidade) e que esse ator desempenha vários papéis (sociais, é claro). Isso, trocando em miúdos, significa dizer que um mesmo ator pode ser, ao mesmo tempo, pai, filho, cônjuge, estudante, professor, psicólogo, médico, policial, jornalista, torcedor... Imaginem eu gritando com a minha filha, lendo o lide para que ela aprenda a lição da escola! Poderia continuar apresentando as multifaces de um ser humano, mas nos interessa explorar algumas das características já citadas aqui. Evidentemente que não há como ser jornalista e esquecer para que time torce. Isso acabaria celebrando o tal do sujeito cartesiano, sem contar que o mito da objetividade teria triunfado, como se já não valessem as críticas de Nelson Rodrigues. Mas, isso não significa que não devemos ter consciência do papel social que desempenhamos em cada momento do nosso dia. Quando uso o espaço destinado à imprensa (no caso do Maracanã, a Tribuna de Imprensa), preciso ter a exata noção do personagem que ali está. Se quiser torcer, compro o ingresso e vou para as arquibancadas incentivar ou criticar meu clube de coração. Assim, soa como ignorância ou cinismo usar o espaço destinado aos jornalistas para me manifestar como torcedor.
Aliás, por falar em torcedor, este também deveria conhecer o seu lugar no processo. Como tal, o sujeito está apto para (novamente) incentivar ou criticar um elenco, jamais para agredir os jogadores que, como profissionais, merecem respeito como qualquer outra categoria. Novamente recorramos à imaginação: seria possível um morador agredir a um síndico se avaliasse que ele não estava desempenhando suas funções adequadamente? E o escriturário, poderia ter a mesma atitude com seu chefe? Ou o jornalista, por discordar de um veto do editor? Nosso objetivo aqui não é ditar normas de comportamento. Muito pelo contrário. O que buscamos ao longo desses anos de formação profissional é lutar para que nossos direitos como cidadãos sejam respeitados. Se avaliar que o jogador pode ser agredido por não desempenhar suas funções da maneira que gostaríamos, ou ainda, que posso usar das prerrogativas que tenho como jornalista para ser um torcedor privilegiado, qual seria a minha posição diante de um delegado de polícia que vai a uma partida de futebol, torcendo pelo time adversário, e me enquadra pelo uso de palavras que julgue inadequadas? Naquele momento, ele é um cidadão como outro qualquer, um torcedor, não o delegado. Respeito ao outro é fundamental, por isso a nossa indignação contra os episódios do Maracanã e das Laranjeiras e nosso total apoio à Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (ACERJ) e aos jogadores do Fluminense Football Club.

Um comentário:

  1. Esse é o que poderíamos chamar de um post "redondinho". Valeu Dando Bola, estou nessa com vocês. Respeito é bom em tudo.

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